Escrevi esse texto ano passado. A ideia era ser só um roteiro pra um curta que eu iria apresentar em um debate que tinha o título “QUAL A SUA IDENTIDADE?”. Na epoca por várias questões não rolou. Dei uma adaptada no texto e vou publicar aqui. É isso. Obrigado!

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Amanhã eu faço 20 anos.
Acho que estou ficando velho.
Faz três dias que estou pensando na minha vida, em tudo que vivi saca!
Que saudades do Léo, do Neto e do Jaime. A gente formava o quarteto fantástico. Nós só tínhamos 10 de anos de idade, mas a gente tocava o terror no colégio. Implicava com todo mundo por diversão! As menininhas nos achavam o maximo, mas o maior prazer era esnobá-las. Minha vida era a diversão com os meus amigos. Futebol, corrida de bike e até tentar andar de skate. O que eles faziam, eu tava dentro.

Passou um tempo e troquei de escola. Minha mãe queria que eu estudasse. Achava que junto com os meus brothers eu só ia malandrar. Na escola nova fui andar com os CDFs. Ia na onda deles e estudava pra caramba. Não queria saber de nada, só de estudar. Minha mãe queria que eu fosse um analista de sistema. – Computador da dinheiro! Dizia ela. Só que eu não tinha vocação pra ser NERD. Adorava os eletrônicos, mas nunca quis saber como eles funcionavam. Mas eu me esforçava. Só que aquele ali não era eu. Ali era o filinho da mamãe! Eu não queria ser o que ela queria que eu fosse, ora!

Até que eu conheci a Marcela. Moreninha, cabelo cacheado, olhos verdes. Linda de doer. Me apaixonei a primeira vista. Ela era toda descolada saca, era alegre, gostava de dançar, de fazer compras, de sair com as amigas; só não gostava de NERDS. Ela achava todos eles idiotas. E daí que ela era aquele tipo de garota que só ia na escola a passeio? Ela era linda. Fui me aproximando dela. A cada dia que passava a minha motivação em ir pro colégio crescia. Eu tinha encontrado a matéria perfeita pra eu estudar; a marcela virou o meu assunto de pesquisa favorito. Começamos a namorar. Agora sim eu estava realizado. Agora sim eu me sentia eu. Namorava uma garota linda, não era mais o filinho da mamãe. Era simplesmente eu. Foi ai que meses depois, descobri que ser eu, naquele curto espaço de tempo, era ser o brinquedinho da marcela. Minhas notas despencaram, eu não dava mais idéia pros meus amigos. Eu bebia, respirava e vivia o que a Marcela queria que eu vivesse. Ela mudou meu estilo de vestir, as musicas que eu escutava, até os programas de TV que eu curtia abandonei por ela. Eu só conversava com quem ela queria. Eu estava perdidamente apaixonado. E eu pensando que aquele sim era eu. Ledo engano. A marcela me trocou meses depois por um carinha que era do time de basquete do colégio. Foram dias terríveis. Estava prestes a fazer 15 anos. Estava de recuperação na escola, não conversava com meus amigos, odiava a vida que vivia por causa dela e não tinha mais minha namorada!

Lembro até hoje. Era sábado, tava um frio de doer, pensei no que minha avó sempre me dizia e tomei uma decisão: Vou entrar pra igreja. Foram dois anos pra não ser esquecido. Dos meus 15 aos 17 anos. Logo que entrei me encantei com o louvor. Eram momentos delirantes. Rapidamente aprendi tocar violão. Eu precisava fazer parte daquele grupo. Eu tinha certeza: Agora sim, encontrei meu lugar. Em pouco tempo eu era considerado o menino prodígio do louvor. Virei o pupilo do líder. Ele dizia que eu iria substituí-lo, que eu havia nascido para aquilo. Claro, eu adorava. Todos na igreja falavam comigo. As pessoas me veneravam. As menininhas caiam matando em cima de mim. Nos retiros então eu fazia a festa. Era uma namorada em cada um. Aquele sucesso todo na igreja subiu a minha cabeça. Eu comecei a menosprezar as pessoas; me considerava intocável. Quase um Deus. Selecionava meus relacionamentos pelo grau de importância que cada um tinha na igreja. Humpf, até parece que um moleque como eu pode definir quem é mais importante pra Deus. Durante dois anos eu fui um otário. Tentei superar as frustrações da minha curtíssima vida me escondendo atrás da religião! Novamente eu não me reconhecia. Aquele não era eu.

Há quase três anos minha avó morreu. Me revoltei com Deus. Sai da igreja. Achava que ele não tinha o direito de permitir que eu sofresse. Eu tinha só 17 anos. Achava que eu era alguém. Eu estava completamente frustrado. De que adiantava tudo aquilo se eu não tinha mais aquela pessoinha que sempre acreditou no Conrado do bem que existia dentro de mim. Eu realmente amava a minha avó. Mais uma vez minha vida perdeu o sentido. O que seria de mim sem ela? Ela que viveu com a minha família desde que eu tinha dois anos de idade. Como são as coisas. Minha avó sempre quis que eu servi-se a Cristo. Eu preferi me converter à igreja; precisava fazer parte um grupo e pra mim Deus nunca teve importância. Quanta tolice a minha.

Daquele dia em diante eu não era ninguém. Conrado Albuquerque de Sousa. 17 anos. Ninguém. Eu não era ninguém. E continuei a não ser por mais algum tempo. Qualquer coisa fazia minha cabeça. Conheci uma rapaziada no colégio. Todos eles repetentes do ultimo ano que nem eu. E todos eles igual a mim. Um deles me ofereceu droga. Dizia que era pra relaxar. Pra esquecer as feridas dessa vida. Pra esquecer de mim. Eu nunca tive personalidade. Pra mim tava bom demais ser mais um.

Um dia eu cansei. Decidi que eu iria começar tudo de novo. Em memória a minha avó. Em consideração a minha mãe. Mas agora sim seria diferente. Eu decidi ir atrás do meu próprio EU. Olho pro Léo, pro Jaime e pro Neto. Todos eles já decidiram o que vão ser da vida. Estão correndo atrás e eu estou aqui, tentando recuperar o tempo perdido. Eu dou moral pra eles. Esses realmente são amigos. Toda vez que eu fui um babaca, eles nunca viraram as costas pra mim. Eu devo todas as desculpas do mundo a eles.

Amanhã… Amanhã eu faço 20 anos. Os meus únicos amigos estão fora da cidade, cuidando da vida deles. E eu? To aqui, tentando me encontrar. E no meio de toda essa lembrança, to revoltado porque adiaram o ENEM. Estão fazendo a gente de palhaço. Precisamos fazer algo! Outro dia li na internet que antigamente uma multidão de pessoas queria mostrar ao mundo, a identidade da geração deles. Eles queriam paz e amor, e se manifestaram num festival de musica. Lembro também que vi nas aulas de historia a manifestação de um povo pelas Eleições direitas no Brasil. Agora chegou à hora da minha geração, fazer algo. A minha vida reflete a minha geração. Somos apenas o que os outros querem que sejamos. Só queremos nos dar bem e curtir. Mas agora tudo vai mudar. Já estamos todos unidos, prontos pra lutar por aquilo que nós queremos. Aproveitei a raiva pra desabafar aqui no blog. Agora eu vou nessa porque a manifestação vai começar e quem fez essa palhaçada com a gente eu vou xingar muito… No twitter! Sério!