Sexta-feira. No facebook todos seus amigos faziam posts comemorando a chegada do tão esperado final de semana. As paginas das casas de show que gostava de frequentar, anunciavam efusivamente suas atrações noturnas. Seus amigos insistentemente lhe mandavam sms perguntando “qual a boa de hoje?”, mas pra ele nada fazia sentido. O seu estado depressivamente desanimador, contrastava com tudo que ele tinha vivido até uns dias atrás. “Baladeiro de oficio”, “pegador”, “pé de cana”… Era conhecido por vários adjetivos que faziam dele um cara popular e com certo prestigio com as mulheres.

Mas a ficha caiu. Abriu mão do seu grande amor pra viver na esbornia. Maltratou um coração com sentimentos puros, que o respeitava, independente de tudo o que ele já tinha feito com ela. Existia alguém que o amava verdadeiramente.

Ele não dava o braço a torcer. Tinha que manter uma pose, claro. Uma marra sagaz e debochada. “É disso que a mulherada gosta!”, vociferava pra quem quisesse ouvir.

Mari, uma garota simples, que vivia bem com todo mundo, que tratava quem quer que fosse da mesma forma e não escolhia pessoas para se relacionar. Tinha o dom de acolher a todos que estavam a sua volta com uma ternura angelical, um amor louco, inexplicável até para quem via de fora. Mas havia uma pessoa que ela amava de forma diferente. Ele não era melhor que ninguém e nem merecia um amor especial. Mas seu sentimento era diferente. O melhor amigo desde a infância, virou namoradinho na adolescência, que virou caso serio na juventude e que estava se tornando um estranho qualquer no presente. O cara que mexia com ela de uma forma impar, agora usa outras garotas para se tornar popular, pra tentar de alguma forma se afirmar. E isso provocava nela um contraditório desprezo. Logo ela, que amava sem distinção, sem o peso do merecimento, agora briga consigo mesma para tentar não sentir repudio por alguém. Pensava ser perfeita. E não ser a maltratava aos poucos.

Já havia dois meses que ele terminara com ela. E toda aquela ternura que ela resplandecia, já não exalava mais. Fora afetada pela tristeza e pelo desprezo que sentia por alguém que achava não merecer o seu amor. Na verdade, tudo isso era reflexo do medo de perder um amor diferente. Estava sendo consumida por outro sentimento que não sabia explicar. E resolveu mudar. Resolveu começar de novo. Dar a volta por cima. Procurar outro amor, que não a mudasse, mas que somasse a vida dela e refletisse no amor puro que ela sentia pelo ser humano.

Foi morar no interior. Não teve coragem de contar pra ele que estava se mudando por causa dele. Pelo que a fazia sentir. Ao chegar à nova cidade, conheceu algumas pessoas legais e logo foi convidada para uma festa. Querendo se enturmar, Mari aceitou o convite.

O som da banda tocava alto, as pessoas se divertiam e Mari não era diferente. Era apresentada a novas pessoas e sentia que ali, naquela cidade, ela poderia voltar a ser quem era. Uma pessoa mais humana. No sentido puro da palavra mesmo. E Mari resolveu dançar como se não houvesse amanhã…

E realmente não haveria. Um corre-corre, uma gritaria, uma confusão, uma fumaça e alguns segundos para Mari entender o que estava acontecendo. A casa de shows estava em chamas. Aquele amor puro que ela sentia pelas pessoas, fez brotar em Mari uma força descomunal. Passou por cima de todos e saiu. Respirou ar puro e resolveu voltar. Ajudou várias pessoas a saírem. Umas cinco. Na sexta vez que entrou, não saiu mais. Morreu intoxicada pela fumaça altamente toxica. Não sem antes gritar alto que perdoava aquele cara que ultimamente a fez sofrer. Não sem antes dar uma risada que se não fosse aqueles acontecimentos, talvez outras 5 pessoas teriam morrido porque ela não estaria ali pra ajudar. Se sentiu bem. Se sentiu em paz e partiu.

Foi então que ele, ao ver no jornal a reportagem sobre uma linda garota que ajudou a salvar outras vidas, mas não a sua, reconheceu a foto de Mari e chorou. Se deu conta que havia a feito sofrer. Que desprezava seu grande amor por bobagem. E que agora só viveria em sua lembrança.

E quis recomeçar. Não poderia se dar ao luxo de brincar com o sentimento de outra pessoa novamente. Principalmente de uma garota como Mari.

O relógio marcava 20h. Resolveu deixar a deprê de lado e sair. Ia tentar se divertir. Mas com a certeza de naquele dia ele iria recomeçar. Se conscientizar de que o mundo não gira em torno dele. Resolveu que iria se inspirar na pessoa que Mari um dia foi. Aquela que o que importava era amar. Seja lá quem fosse. E entendeu a profundidade dessa palavra e tudo o que ela carregava. Lembrou-se de uma música: “Só o amor faz a gente crescer. Faz valer o risco, faz compreender que sem amor nada tem valor, nada tem sentido e qualquer sacrifício vai pro lixo!”

O nome dele? O nome não importa. O que importa é a reverberação do calor do amor através da pessoa que dali pra frente ele resolveu ser.